Acervo de Enrique Padrós ganha exposição permanente no IMA
Pesquisa sobre anos de golpes, não só no Brasil, também está disponível para consulta
Foto: Carlos Queiroz - DP - Espaço. Sala do IMA é dedicada ao material doado pelo professor para pesquisa
A luta do Instituto Mário Alves (IMA) para manter viva a memória do que foram os golpes militares e o que eles marcaram violentamente a vida de muitas pessoas na busca pela democracia, ganhou um grande aliado. Já está em exposição permanente e disponível para consulta pública o acervo do professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o uruguaio de nascimento e brasileiro de coração, Enrique Serra Padrós.
São centenas de livros e mais de caixas com revistas e documentos que contêm anos de pesquisas sobre o tema, principalmente o golpe de 1964, quando o Brasil viveu longos anos submetido ao regime ditatorial. O material é reconhecido na América Latina e reúne obras sobre história contemporânea, especialmente sobre o século 20, além de disponibilizar bibliografia atualizada sobre as ditaduras no Paraguai, Uruguai, Chile, Brasil e Argentina. Entre o vasto material, obras que tratam de temas como Operação Condor, autoritarismos, democracia e direitos humanos.
A riqueza do acervo doado (significativa parte dele, pois Parós compartilhou com outras instituições, sendo um desejo manifestado antes da sua morte, em 23 de dezembro de 2021), está sendo minuciosamente cuidado. Os livros foram catalogados nas estantes por países, livros de memórias e de teorias. As revistas passam agora por uma higienização. "Mesmo sendo novas, do ano de 2010, é preciso que se retire a poeira para aumentar o tempo de preservação", disse a estagiária Camila Karam Orta, bacharela em História da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Sobre a relevância do material, a responsável pelo funcionamento do IMA, Juliana Braga, exemplifica com a doação de dois exemplares da Revista Brasil Revolucionário para duas estudantes da Bahia, que pesquisavam o tema e não encontravam material em seu estado.
Admiração
Juliana fala com admiração pelo professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS, que nunca chegou a lecionar em Pelotas, mas tinha uma relação de trabalho e afetiva de quase 20 anos com o Instituto Mário Alves, participando de inúmeros cursos, seminários de formação e projetos do IMA. "Enrique Padrós foi um dos maiores pesquisadores sobre o tema das ditaduras no Cone Sul, reconhecido no Brasil e no exterior. Ao mesmo tempo, foi um militante das lutas por verdade, memória e justiça", ressaltou a professora de História da UFPel, e mestre e doutora pela UFRGS, Alessandra Gasparotto.
No vasto currículo de Padrós, está o desenvolvimento de uma série de projetos de organização de acervos e coleta de testemunhos de sobreviventes das ditaduras. No Rio Grande do Sul, contribuiu com a organização do Acervo da Luta contra a Ditadura e se dedicou a atuar em propostas de formação de professores para tratar sobre ditaduras e direitos humanos. Com sua morte, a professora, juntamente com a colega Carla Luciana Silva, prestaram uma homenagem através de um artigo publicado na Revista História & Luta de Classes.
"Ele nos deixou uma obra importante e marcante para compreender o Terrorismo de Estado, tema nodal ao qual se dedicava. São muitos os textos em que ele tentou sintetizar as ideias relacionadas. Eles partem do trabalho de sua tese de Doutorado, mas vão além dela em pesquisas e conhecimento", disse a professor no artigo.
As professoras ainda se referiram ao trabalho em torno das memórias sobre as ditaduras, em que Padrós, ao longo de sua trajetória, coletou dezenas de depoimentos, muitos deles publicados em livros, organizados atividades que permitiram escuta a dezenas de sobreviventes e empenhou-se pela abertura, localização e organização de arquivos e documentos. "Em seus estudos sobre as ditaduras, chamam a atenção suas discussões sobre a História do Tempo Presente (HTP) e a chamada História Imediata (HI), conceitos sobre os quais Padrós se debruçou e teorizou quando ainda eram pouco aceitos no meio acadêmico brasileiro", contou Alessandra. Para a integrante do IMA, Padrós deixa um imenso legado.
Sobre o IMA
O Ima foi criado em 2001 e se constitui em um espaço de formação política, defesa dos direitos humanos e promoção cultural. Engloba biblioteca, sebo, livraria com obras selecionadas, espaço para atividades políticas e culturais. A sede do IMA abriga uma série de atividades de entidades parceiras.
Para conhecer
O acervo está aberto à comunidade para pesquisa e,quem é sócio do IMA pode retirar material para estudo. "É aí que reside sua importância, porque irá contribuir com a formação de pesquisadores e professores, e para ampliar o debate público sobre o tema.
Serviço
O quê: Exposição do acervo Enrique Padrós
Quando: Permanente, das 13 às 19h
Onde: No IMA, rua Alberto Rosa 164
Informações: (53) 98425-7241
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